Há muito tempo, no início de tudo, existiam três irmãos. Dois eram homens, e a irmã, chamada Onhiamuaçabê — ou simplesmente Uniaí — era uma jovem de rara beleza. Ela era dona de um lugar mágico chamado Noçoquém, onde cresciam as plantas mais incríveis: alimentos, remédios e materiais para artesanato. Uniaí conhecia todos os segredos daquele lugar e, gradualmente, compartilhava seu saber com os irmãos. No Noçoquém, ela plantou uma castanheira tão imensa que parecia tocar o céu.

Naquela época, os animais eram como gente, e muitos desejavam se casar com Uniaí. Porém, seus irmãos não permitiam, pois queriam que ela continuasse cuidando de tudo para eles. Certo dia, uma cobra decidiu conquistar o coração de Uniaí. Espalhou um perfume irresistível pelo caminho e, ao senti-lo, Uniaí ficou encantada. Encorajada pelos elogios, a cobra se revelou e expressou seu desejo de se casar com Uniaí. Naquele tempo, o mero desejo era suficiente para gerar filhos, e assim Uniaí engravidou.

Os irmãos de Uniaí ficaram furiosos com a notícia. Temendo perder a ajuda da irmã, expulsaram-na do Noçoquém. Ela partiu e construiu uma casa próxima a um rio. Lá, deu à luz um menino forte e belo, que criava com todo o amor. À medida que o menino crescia, Uniaí contava-lhe histórias sobre o Noçoquém, seus tios e a majestosa castanheira. Fascinado, o menino um dia pediu para provar as castanhas das quais tanto ouvia falar.

Uniaí explicou que era perigoso, pois seus irmãos haviam colocado guardas na castanheira: uma cotia, um periquito e uma arara. Mesmo assim, o menino insistiu e foi com a mãe até lá. Mais tarde, retornou sozinho para buscar mais castanhas. No entanto, os guardas alertaram os tios sobre sua presença, e os irmãos ordenaram que um macaco vigiasse a castanheira e eliminasse qualquer intruso. O menino foi pego de surpresa e, atingido por flechas, caiu sem vida.

Quando Uniaí notou a ausência do filho, correu desesperada para o Noçoquém. Lá, encontrou o corpo do menino. Seu pranto foi tão intenso que a tristeza se transformou em força. Com determinação, plantou o corpo do filho na terra, proclamando: "De você nascerá a planta mais forte, que curará os homens e dará energia para o amor, a guerra e a vida."

Do olho esquerdo do menino nasceu o falso guaraná, chamado de uaraná-hôp. Do olho direito, brotou o verdadeiro guaraná, o uaraná-cécé. Por isso, o fruto do guaraná assemelha-se a um olho humano. Dias depois, Uniaí retornou para ver o guaraná. A planta estava exuberante, carregada de frutos, e sob ela encontrou seu filho novamente vivo, forte e alegre.

Esse menino, renascido da terra e do guaraná, tornou-se o primeiro índio da tribo Maué, símbolo de força e vitalidade. Ele é considerado o ancestral da tribo e a personificação do poder que emana da natureza e da vida que se renova.