O Dia Internacional da Mulher, celebrado anualmente em 8 de março, representa uma longa trajetória de mobilização feminina por direitos, igualdade e respeito. O percurso histórico que consolidou esta data envolveu diversos momentos-chave, desde as primeiras manifestações no início do século XX até seu reconhecimento internacional pela Organização das Nações Unidas (ONU). Neste artigo, exploraremos as origens históricas do Dia Internacional da Mulher, seus principais marcos em diferentes partes do mundo, sua consolidação no contexto brasileiro e os desafios contemporâneos na busca pela igualdade de gênero.
Origem Histórica do Dia Internacional da Mulher
A ideia de um dia dedicado às mulheres surgiu dos movimentos feministas e trabalhistas entre o final do século XIX e início do século XX. Essas mobilizações reivindicavam melhores condições de trabalho, salários justos e direito ao voto. Um marco fundamental foi a celebração do National Woman's Day nos Estados Unidos, em 28 de fevereiro de 1909, organizado pelo Partido Socialista da América.
Em 1910, durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague (Dinamarca), surgiu a proposta de internacionalização da data. Clara Zetkin — líder do Escritório Feminino do Partido Social-Democrata da Alemanha — propôs estabelecer uma data única anual para celebrar as lutas das mulheres mundialmente. A proposta recebeu apoio de representantes de 17 países, incluindo as pioneiras parlamentares finlandesas.
A primeira celebração internacional ocorreu em 19 demarço de 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça, seguindo o acordo de Copenhague. Dias depois, em 25 de março, um trágico incêndio na Triangle Shirtwaist Factory, em Nova York, marcou a história.
O direito ao voto feminino constituiu um marco histórico significativo, conquistado gradualmente ao redor do mundo. Sua aprovação em diferentes nações — Finlândia em 1906, Noruega em 1913 e Reino Unido em 1918 — demonstrou a força da organização feminina e evidenciou a urgência do reconhecimento de direitos políticos e sociais igualitários.
O 8 de Março e a Revolução Russa
Embora as primeiras celebrações tenham ocorrido em outras datas, o 8 de março estabeleceu-se durante os movimentos revolucionários na Rússia. Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial e em meio a uma grave crise de abastecimento, trabalhadoras russas organizaram greves e protestos em Petrogrado (atual São Petersburgo). Esta mobilização, conhecida como "Marcha das Mulheres de Petrogrado", tornou-se fundamental para o início da Revolução Russa.
O governo soviético, reconhecendo a importância do protagonismo feminino, instituiu o 8 de março como feriado oficial em homenagem às mulheres. Esta data foi gradualmente adotada por outros países, tornando-se o símbolo internacional das conquistas e reivindicações femininas.
Consolidação e Reconhecimento Internacional
Em 1975, durante o Ano Internacional da Mulher, a Organização das Nações Unidas oficializou o Dia Internacional da Mulher em 8 de março. Em 1977, a Assembleia Geral aprovou uma resolução que proclamou o dia como dedicado aos direitos das mulheres e à paz internacional, consolidando sua adoção pelos países-membros conforme suas tradições históricas e culturais.
A partir de então, nações e entidades começaram a desenvolver campanhas de conscientização e políticas públicas voltadas ao empoderamento feminino e à igualdade de gênero. Com o passar das décadas, o Dia Internacional da Mulher consolidou-se como um momento de reflexão, homenagens e, principalmente, de continuidade da luta por direitos em escala global.
Novos Marcos: 2001 e 2011
No início do século XXI, a luta pela igualdade de gênero expandiu-se para o meio digital. Em 2001, foi criada a plataforma InternationalWomensDay.com, destinada a centralizar informações sobre a data e apoiar iniciativas em favor das mulheres globalmente. Desde então, a plataforma promove campanhas anuais, mobiliza recursos e conecta organizações e pessoas engajadas na causa feminista.
O ano de 2011 marcou o centenário da primeira celebração oficial de 1911, ocasião que gerou diversas iniciativas globais. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama declarou março de 2011 como "Mês da História da Mulher", convidando a população a refletir sobre as conquistas femininas na construção do país. Organizações internacionais, personalidades e líderes políticos fortaleceram as manifestações,ampliando o engajamento e a conscientização em torno do 8 de março.
O Dia Internacional da Mulher no Brasil
Conquistas Históricas e Luta por Direitos
No Brasil, o processo de inserção das mulheres na esfera política e social foi marcado por intensos embates. Em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, as brasileiras conquistaram o direito ao voto, garantindo participação formal no processo eleitoral. Esse passo, embora tardio em comparação a outros países, foi fundamental para a ampliação da presença feminina nos espaços de poder.
A Constituição de 1988 representou outro marco ao consolidar princípios de igualdade entre homens e mulheres, garantindo direitos civis e trabalhistas. Posteriormente, leis específicas fortaleceram a proteção às mulheres, como a Lei Maria da Penha (2006), considerada uma das legislações mais avançadas do mundo no combate à violência doméstica.
Atualmente, o 8 de março no Brasil é marcado por manifestações, debates e campanhas que destacam a importância da luta contra o feminicídio, a desigualdade salarial, o assédio sexual e outras formas de violência de gênero. A Marcha das Mulheres e os movimentos sociais atuam consistentemente para dar visibilidade às pautas femininas e exigir políticas públicas efetivas.
Conquistas e Desafios Atuais
A busca pela igualdade de gênero exige, além de medidas legislativas e institucionais, uma transformação cultural profunda. São fundamentais as campanhas de conscientização, a educação para a igualdade e os programas de incentivo à liderança feminina. O engajamento de todosos segmentos da sociedade — homens, mulheres, instituições públicas e privadas — é essencial para construir um mundo onde as mulheres possam exercer plenamente seus direitos e potencialidades.
Avanços
Nas últimas décadas, conquistamos avanços importantes:
- Direito ao voto e participação política: mulheres ocupam cada vez mais cargos eletivos e posições de liderança política.
- Educação e mercado de trabalho: o acesso das mulheres à educação formal cresceu significativamente, permitindo maior inserção profissional e econômica.
- Empoderamento e visibilidade: avanços na mídia e nas redes sociais ampliaram o diálogo sobre questões de gênero, conferindo maior espaço às vozes femininas.
Desigualdades Persistentes
Apesar dos avanços, importantes desafios permanecem:
- Desigualdade salarial: mulheres ainda recebem, em média, menos que homens em funções equivalentes.
- Violência de gênero: o feminicídio, o assédio sexual e a violência doméstica continuam sendo desafios globais que exigem políticas públicas e mudanças culturais permanentes.
- Sub-representação em cargos de liderança: apesar do crescimento da presença feminina em posições de destaque, ainda há grande disparidade em relação aos homens em altos cargos executivos e políticos.
Conclusão
O Dia Internacional da Mulher, com sua rica história de datas e influências, consolidou-se em 8 de março como símbolo universal de luta e conquista feminina. Das primeiras manifestações no início do século XX ao reconhecimento pela ONU em 1975, até as campanhas globais contemporâneas, o dia simboliza as múltiplasbatalhas enfrentadas e vencidas pelas mulheres em busca de igualdade.
No Brasil, a trajetória de conquistas — do direito ao voto às legislações de proteção e à crescente inserção nos espaços de poder — evidencia avanços significativos. Contudo, a violência de gênero, a desigualdade salarial e a sub-representação em posições de liderança ainda são desafios a serem superados.
Celebrar o Dia Internacional da Mulher significa honrar a memória das gerações passadas e reafirmar nosso compromisso diário com a construção de uma sociedade mais justa. Ao revisitar a história, percebemos que a luta feminina beneficia toda a humanidade — pois a igualdade de gênero é pilar fundamental para um futuro mais próspero, inclusivo e ético.
Referências
DELAP, Lucy. Feminisms: A Global History. Chicago: University of Chicago Press, 2020.
MILES, Rosalind. The Women's History of the Modern World: How Radicals, Rebels, and Everywomen Revolutionized the Last 200 Years. New York: William Morrow Paperbacks, 2021.
STANSELL, Christine. The Feminist Promise: 1792 to the Present. New York: Random House Publishing Group, 2011.