Características
Parlendas são composições da tradição oral e do folclore brasileiro, caracterizadas por serem textos populares formados em versos com estrofes que podem ou não rimar. São um gênero literário marcado por versos curtos, rimados e ritmados. De fácil memorização e geralmente breves, quase todas são de domínio público e se destacam por uma forma concisa, rimada, ritmada e repetitiva, nem sempre com significado lógico. A simplicidade e a repetição presentes nas parlendas tornam-nas acessíveis e fáceis de memorizar, o que contribui para sua disseminação e preservação ao longo do tempo.
Originária do latim parlare, que significa "falar", a parlenda funciona como pequenas rimas ou poemas recitados, frequentemente sem um sentido lógico completo, mas com forte apelo sonoro e lúdico.Do ponto de vista pedagógico, as parlendas desempenham um papel significativo no desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças. Elas auxiliam na memorização, estimulam a linguagem oral e promovem a socialização. Por meio das rimas e ritmos, as parlendas facilitam o aprendizado de conceitos básicos, como números, dias da semana, meses e nomes de objetos cotidianos. Educadores utilizam essas rimas para tornar o processo de alfabetização mais envolvente e interativo, aproveitando o caráter lúdico para ensinar de forma eficaz.
As parlendas têm como principais funções divertir, entreter e ensinar as crianças. Frequentemente utilizadas em jogos e brincadeiras tradicionais, sua estrutura rítmica e repetitiva facilita a memorização. Além de promover atividades lúdicas como jogos de roda e cantigas, essas rimas muitas vezes refletem superstições e crenças populares — por exemplo, a ideia de que pisar em uma pedra pode trazer má sorte. Embora muitas parlendas não tenham um sentido lógico, são criadas para serem lúdicas e fáceis de memorizar, contribuindo assim para a diversão e a preservação de tradições culturais nas brincadeiras infantis.s.
Segundo o folclorista Câmara Cascudo, parlendas são versos de cinco ou seis sílabas e podem ser classificadas como:
a. Mnemonias: utilizadas para ensinar conceitos educacionais ou fixar conteúdos como números, dias da semana, cores, nomes etc.
"Um, dois, feijão com arroz; três, quatro, feijão no prato".
b. Parlendas de Escolha:formuladas para sortear quem deve iniciar o jogo ou "ficar", dirigir ou ter a parte mais responsável. São recitadas rapidamente e, ao findar o último verso, "fica" quem foi apontado por último.
ReiCapitãoSoldadoLadrãoMenino,MeninaMacacoSimao.Sola, sapato,Rei, rainhaOnde quereisQue eu va dormit·?Na casa de mãeAninha.Una, duna, tena, catena,Bico de pena,Gurupi, gurupa,Sola, solada,Conte bemQue sao dez.
c. Parlendas Complexas: mais elaboradas e recitadas por crianças, incluindo exemplos como os trava-línguas. Algumas parlendas simplesmente entretêm, usando personagens e situações imaginárias para estimular a criatividade.
Cadê o toucinho que tava aqui?O gato comeu.Cadê o gato?Foi pro mato.Cadê o mato?O fogo queimou.Cadê o fogo?A água apagou.Cadê a água?O boi bebeu.Cadê o boi?Foi amassar trigo.Cadê o trigo?A galinha espalhou.Cadê a galinha?Foi botar ovo.Cadê o ovo?O padre comeu.Cadê o padre?Foi rezar missaCadê a missa?Acabou.
A importância cultural das parlendas é notável, pois elas representam um elemento significativo do folclore brasileiro. Incorporam elementos históricos, sociais e linguísticos, muitas vezes refletindo influências europeias trazidas pelos colonizadores portugueses e adaptadas ao contexto brasileiro. Ao serem transmitidas oralmente, as parlendas sofrem adaptações que refletem a dinâmica da cultura popular, reforçando a identidade cultural e a coesão social.
Em suma, as parlendas são ferramentas valiosas tanto na educação quanto na preservação cultural. Elas promovem o aprendizado de forma divertida e acessível, fortalecem os laços comunitários e mantêm vivas as tradições folclóricas. Ao integrar conhecimento, cultura e entretenimento, as parlendas contribuem para o desenvolvimento integral das crianças e enriquecem o patrimônio imaterial do Brasil.
20 Exemplos de Parlendas Brasileiras
- Bão, babalão,Senhor Capitão,Espada na cinta,Ginete na mão.Em terra de mouroMorreu seu irmão,Cozido e assadoNo seu caldeirãoBão-balalão!Senhor capitão!Em terras de mouroMorreu meu irmão,Cozido e assadoEm um caldeirão;Eu vi uma velhaCom um prato na mão,Pedi um pedaço,ela disse que não!
- Meio-diaMacaco assobiaPanela no fogoBarriga vazia.
- Tem peixe na pia fria,Pula gato, gato mia,Lá vem a tia Maria,E não vem de mão vaziaPula gato, gato miaCaiu o chinelo que elatrazia.
- O negócio é o seguinteO preço da égua é cento e vinteE o da mula?Você nem calcula!
- Feijão com arroz,Três, quatro,Feijão no prato,Cinco, seis,Fico freguês,Sete, oito,Comer biscoito,Nove, dez,Comer pastéis.
- Galinha chocaComeu minhocaSaiu pulandoQue nem pipoca.
- Era uma bruxaÀ meia-noiteEm um castelo mal-assombradoCom uma faca na mãoPassando manteiga no pão.
- A galinha pintadinha e o galo carijóA galinha veste saia e o galo paletóA galinha ficou doente e o galo nem notouO pintinho inteligente foi chamar o seu doutorO doutor era o peru, a enfermeira era o tatuA agulha da injeção era a pena do pavão
- Olha o sapoDentro do saco.O saco com o sapo dentro,O sapo batendo o papo,E o papo do sapo soltando o vento.
- Rei, capitão,Soldado, ladrão.Moça bonitaDo meu coração.
- A vaca amarelaPulou a janelaTrês mexeuQuatro comeuQuem falar primeiroCome a bosta delaEu sou rainhaBebo o caldo da galinha
- Os dedosMindinho,Seu vizinho,Pai de todos,Fura bolo,Mata piolho.
- Um, dois,A casinha do vovôÉ coberta de cipóO café tá demorandoCom certeza não tem pó
- Quem é?É o padeiroE o que quer?DinheiroPode entrarQue eu vou buscarO seu dinheiroLá embaixo do travesseiro
- Corre, cotiaDe noite e de diaDebaixo da camaDa dona MariaCorre, cipóAtrás da avóEu tenho um cachorrinhoChamado TotóEle pula, ele dançaDe uma perna sóCocori-o-ri-ocó
- E um francêsO francêsPuxou a espadaOs piratasSe arrepiaramPensa que matou?Vou lhe contar o que se passou:Era uma vez, trêsEsta é a igrejinhaEsta é a sua torrinhaAbro a porta, há muita genteÉ domingo, estou contente
- Hoje é domingoPé de cachimboCachimbo é de barroBate no jarroO jarro é de ouroBate no touroO touro é valenteChifra a genteA gente é fracoCai no buracoBuraco é fundoAcabou o mundo
- Pombinha brancaQue está fazendoLavando roupaPro casamentoVou me lavarVou me sentarVou na janelaPra namorarPassou um moçoDe terno brancoTão grande
- Sai, sai, sai, ô piabaSai lá da lagoaSai, sai, sai, ô piabaSai lá da lagoaBota a mão na cabeçaOutra na cinturaDá um remelexo no corpoDá um abraço no outro
- Quem cochicha,O rabo espicha,Come pãoCom lagartixaQuem escutaO rabo encurtaQuem reclamaO rabo inflamaCome pãoCom taturana
- AZEVEDO, Ricardo. Armazém do folclore. São Paulo: Ática, 2000.
- CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 10°. Ed. São Paulo: Editora Global, 2001.
- HEYLEN, J. Parlenda, riqueza folclórica: base para educação e iniciação à música. SãoPaulo: Hucitec/Pró-memória, 1998.
- LERNER, Délia. O real, o possível e o necessário. Porto Alegre.Artmed.2002
- MEC. Parlendas / organizado por Ministério da Educação – MEC ;coordenado porSecretaria de Alfabetização - Sealf. CONTA PRA MIM. Brasília, DF : MEC/Sealf,2020.