A Regência foi estabelecida após a abdicação de D. Pedro I em 1831, governando o Brasil até que D. Pedro II atingisse a maioridade. Durante este período (1831-1840), o país permaneceu sem um monarca efetivo, pois D. Pedro II tinha apenas cinco anos quando seu pai deixou o trono e, segundo a Constituição de 1824, não poderia ser coroado antes dos 18 anos. Embora o prazo constitucional se estendesse até 1844, a maioridade foi antecipada em 1840 por meio do Golpe da Maioridade.

TAUNAY, Félix. Retrato do Imperador D. Pedro II aos 12 anos,1837. Acervo do Museu Imperial de Petrópolis.
TAUNAY, Félix. Retrato do Imperador D. Pedro II aos 12 anos,1837. Acervo do Museu Imperial de Petrópolis.
Pedro II Imperador.
Pedro II Imperador.

Este foi um dos períodos mais turbulentos da história política brasileira, marcado por ameaças à unidade territorial. Os debates focavam-se em três questões principais: a centralização do poder, a autonomia provincial e a reforma militar. As tentativas de implementar práticas liberais em um país recém-saído do absolutismo geraram intensos conflitos entre lideranças e fortaleceram os poderes locais.

Durante esse período, o Brasil teve quatro regências distintas, que marcaram as diferentes fases do Período Regencial:

  • Regência Trina Provisória (1831)
  • Regência Trina Permanente (1831-1834)
  • Regência Una de Feijó (1835-1837)
  • Regência Una de Araújo Lima (1837-1840)

Em essência, o período Regencial caracterizou-se pela busca de um modelo governamental que equilibrasse centralização e autonomia local, enquanto tentava implementar práticas políticas mais liberais, ainda que sob a herança do absolutismo. O período encerrou-se com o Golpe da Maioridade em 1840, quando Dom Pedro II, aos 14 anos, foi declarado apto a governar. A medida buscava pôr fim à instabilidade política e conter os conflitos que ameaçavam a unidade nacional. Embora a coroação antecipada não tenha solucionado imediatamente todos os problemas, abriu caminho para o Segundo Reinado — época caracterizada por maior estabilidade política, fortalecimento da monarquia centralizada e coesão nacional.

1. Regência Trina Provisória (1831)

Com a abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho de apenas cinco anos de idade, foi necessário estabelecer uma regência para governar o país. A Constituição determinava que a Assembleia Geral deveria eleger os regentes, mas esta se encontrava em recesso e muitos parlamentares estavam ausentes do Rio de Janeiro. Para resolver a situação, os deputados presentes na capital estabeleceram uma Regência Provisória até o retorno dos demais parlamentares. Esta Regência governou o país por pouco mais de dois meses, até a eleição da Regência Permanente.

PORTO-ALEGRE, Manuel Araújo. Juramento da Regência Trina, 1831.Esta pintura retrata os regentes provisórios: Lima e Silva, Campos Vergueiro e Carneiro de Campos, e o tutor do jovem Dom Pedro II, José Bonifácio.
PORTO-ALEGRE, Manuel Araújo. Juramento da Regência Trina, 1831.Esta pintura retrata os regentes provisórios: Lima e Silva, Campos Vergueiro e Carneiro de Campos, e o tutor do jovem Dom Pedro II, José Bonifácio.

A Regência Trina Provisória constituiu-se de três representantes: o brigadeiro Francisco de Lima e Silva pelo Exército, o senador Vergueiro pelo liberalismo e o marquês de Caravelas pela tradição conservadora. Durante este período, os liberais moderados emergiram como força política dominante, tendo como principais líderes Bernardo Pereira de Vasconcelos, magistrado mineiro formado em Coimbra, e o Padre Diogo Feijó, paulista que posteriormente se tornaria regente. Os regentes logo tomaram medidas importantes:

Aqui estão as principais medidas tomadas pela Regência Trina Provisória:

  • Reintegrou o Ministério Brasileiro (anteriormente dissolvido por D. Pedro I)
  • Concedeu anistia aos prisioneiros políticos
  • Suspendeu temporariamente o exercício do Poder Moderador
  • Afastou os estrangeiros do Exército
  • Proibiu ajuntamentos públicos na capital para evitar agitações
  • Estabeleceu nova lei limitando os poderes dos regentes e fortalecendo o Legislativo, incluindo:
    • Legislativo ganhou poder para aprovar ou reprovar ministros
    • Restringiu o Poder Moderador: regentes não podiam declarar guerra, decretar estado de sítio, nomear conselheiros ou dissolver a Assembleia
    • Suspendeu a distribuição de títulos de nobreza e condecorações

Em 17 de junho de 1831, após dois meses de governo provisório, a assembleia elegeu a Regência Trina Permanente, que governaria entre 1831 e 1835.

2. A Regência Trina Permanente (1831-35)

Litografia de Sébastien Auguste Sisson retratando:  Brigadeiro Francisco de Lima e Silva e os Senadores José Joaquim Campos e Nicolau de Campos Vergueiro, respectivamente. Biblioteca Brasiliana – USP
Litografia de Sébastien Auguste Sisson retratando: Brigadeiro Francisco de Lima e Silva e os Senadores José Joaquim Campos e Nicolau de Campos Vergueiro, respectivamente. Biblioteca Brasiliana – USP

Eleita para um mandato de quatro anos pela Assembleia-Geral, composta por deputados e senadores, a Regência Trina Permanente tinha como membros o brigadeiro Francisco de Lima e Silva, o marquês de Monte Alegre (José da Costa Carvalho), representante das províncias do sul, e o deputado João Bráulio Muniz, que representava as províncias do norte do Brasil. Apesar da Regência ser o órgão máximo do poder, foi o ministro da Justiça, o padre Diogo Antônio Feijó, quem emergiu como figura dominante, estabelecendo um controle mais centralizado da ordem interna. Feijó, conhecido por sua postura enérgica, assumiu a missão de garantir a "ordem pública" — que, na prática, significava preservar a ordem aristocrática ameaçada pelas manifestações populares após a abdicação.

A fragilidade institucional e os conflitos entre grupos políticos desencadearam movimentos de contestação por todo o país. Como resposta, o governo central criou a Guarda Nacional, formada pela elite votante. No entanto, essa medida acabou intensificando a politização dos conflitos e as rivalidades regionais. O período caracterizou-se pela busca de equilíbrio entre centralização e autonomia local, tentando implementar práticas mais liberais, mesmo sob a herança do absolutismo. A instabilidade política foi marcante, com revoltas frequentes e intensos debates sobre a organização do Estado.

Criação da Guarda Nacional

O início do período regencial foi marcado por intensa instabilidade política, com manifestações populares e levantes militares. O Exército, principalmente seus soldados mal remunerados, frequentemente se aliava ao povo nas rebeliões. Para conter essa situação, Padre Feijó implementou medidas rigorosas, proibindo reuniões noturnas e suspendendo liberdades constitucionais. Em 1831, criou-se a Guarda Nacional para substituir as antigas milícias.

A Guarda Nacional tinha como função principal manter a ordem nos municípios, suprimir rebeliões e proteger fronteiras, sob supervisão do Exército. Embora criada para proteger a Constituição, transformou-se em instrumento de repressão popular e fortalecimento das elites locais. A transferência do controle da segurança para lideranças regionais enfraqueceu o Exército regular e consolidou o poder das oligarquias.

Criação da Guarda Nacional, 1831.
Criação da Guarda Nacional, 1831.

A formação da Guarda Nacional exigia:

Principais pontos sobre a formação da Guarda Nacional:

  • Participação obrigatória de cidadãos entre 21 e 60 anos com direito a voto nas eleições primárias
  • Exigência de renda mínima, assegurando que a nova milícia permanecesse sob controle das elites locais
  • O alistamento enfraqueceu o Exército regular, pois seus membros eram dispensados do serviço militar, e os coronéis da milícia mantiveram-se como figuras centrais do poder local até a Proclamação da República
  • Organização municipal sob comando do juiz de paz e do presidente da província, com os coronéis ocupando as patentes mais altas na Guarda Nacional, mantendo sua influência política local até a Proclamação da República
  • Principal função: manter a ordem nos municípios e suprimir rebeliões, sempre sob supervisão do Exército

Paralelamente à criação da Guarda Nacional, a Regência instituiu o Código do Processo Criminal em 1832, que ampliou as atribuições dos juízes de paz e estabeleceu o júri e o habeas corpus. Os juízes, escolhidos principalmente entre os grandes proprietários de terras, receberam poderes significativos. Essas medidas revelavam a tentativa da Regência de equilibrar a ordem aristocrática com a descentralização do poder, buscando estabilidade em um período de intensa agitação política e social. Como resultado, as elites locais fortaleceram seu controle sobre a justiça municipal e ampliaram sua influência política.

Proibição do Tráfico Negreiro

Em 1831, sob pressão do governo inglês, o governo regencial sancionou a Lei Feijó, que proibia a entrada de pessoas escravizadas vindas da África. A lei declarava livres todos aqueles trazidos ao Brasil após essa data e estabelecia punições para traficantes e compradores. No entanto, a norma foi amplamente ignorada, tornando-se conhecida como "lei para inglês ver" — expressão que simboliza medidas adotadas apenas para manter aparências. A verdadeira interrupção do tráfico negreiro só ocorreu quase duas décadas depois, em 1850, com a Lei Eusébio de Queirós, que implementou medidas mais eficazes para pôr fim à prática.

Ato Adicional (1834)

O Ato Adicional (Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834) foi a única reforma à Constituição de 1824 no Brasil. Em resposta às pressões liberais, concedeu maior autonomia às províncias através de assembleias legislativas próprias, embora sem permitir a criação de constituições ou governos eleitos.

O Ato Adicional de 1834 implementou mudanças significativas na Constituição de 1824 para atender às demandas provinciais e estabilizar a situação política:

  • Suspensão do Poder Moderador e extinção do Conselho de Estado durante o período regencial, eliminando os principais instrumentos centralizadores do Primeiro Reinado.
  • Criação das Assembleias Legislativas provinciais com amplos poderes. Esta medida descentralizadora garantiu autonomia legislativa às províncias, permitindo-lhes criar impostos, gerir funcionários e administrar seus territórios.
  • Ampliação dos poderes dos presidentes de província, mantendo sua nomeação como prerrogativa do imperador.
  • Criação do Município Neutro do Rio de Janeiro, separando-o da província e transferindo a capital fluminense para Niterói. O Município Neutro tornou-se território independente e sede da administração central, com autoridades nomeadas pelo governo imperial.
  • Substituição da Regência Trina pela Regência Una, com mandato de quatro anos e eleição pelas assembleias provinciais, tendo o padre Feijó como primeiro regente eleito.

O Ato Adicional harmonizou as tendências centralizadoras dos liberais moderados com as descentralizadoras dos liberais exaltados. A autonomia concedida às províncias através das Assembleias Legislativas acalmou as elites regionais. Essas mudanças trouxeram estabilidade ao Império durante um período turbulento, fortalecendo o domínio das elites locais e contendo movimentos de oposição, preservando assim a ordem aristocrática no Brasil regencial.

Nesse contexto, a conjuntura política reorganizou-se em torno de três grupos principais. Com a morte de D. Pedro I, os restauradores se dissolveram, enquanto os exaltados, após sua derrota, dividiram-se entre progressistas e regressistas. Foi nesse cenário que ocorreram as eleições para regente, com a vitória do padre Feijó.

Grupo PolíticoCaracterísticas
Liberais moderados (chimangos)- Defendiam o centralismo político da monarquia constitucional - Organizados na Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional - Forte presença em Minas, São Paulo e Rio de Janeiro - Composto majoritariamente por proprietários de terras e escravos
Liberais exaltados (farroupilhas)- Defendiam a federalização do governo - Apoiavam mais poderes para as províncias - Defendiam o fim do Poder Moderador - Lutavam por autonomia provincial e liberdades individuais - Alguns defendiam a República
Restauradores (caramurus)- Majoritariamente portugueses - Ocupavam cargos na burocracia, Exército e alto comércio - Defendiam o retorno de Dom Pedro I - Após morte de Dom Pedro I em 1834, muitos migraram para os liberais moderados

Após a morte de D. Pedro I, o grupo dos restauradores se dissolveu, e os exaltados, após serem derrotados, dividiram-se em dois grupos: progressistas e regressistas. Os progressistas, sob a liderança de Feijó, apoiavam o Ato Adicional e a descentralização política, agregando os remanescentes dos exaltados em defesa de uma monarquia constitucional. Os regressistas, comandados por Bernardo de Vasconcelos e formados por antigos moderados e restauradores, opunham-se ao Ato Adicional e defendiam um governo centralizado e forte.

3. A Regência Una

Durante a primeira fase da Regência, apesar das conquistas liberais, surgiram manifestações contrárias à ordem estabelecida. Essas manifestações foram motivadas tanto pelas dificuldades econômicas da população quanto pelos interesses regionais prejudicados. Com a decisão de estabelecer um governo de regente único, foram organizadas eleições. No pleito de 1835, o padre Feijó venceu com 2.826 votos, superando Holanda Cavalcanti, que obteve 2.251.

Feijó (1835-37)

Litografia de Diogo Antonio Feijó por Sebastien Auguste Sisson.
Litografia de Diogo Antonio Feijó por Sebastien Auguste Sisson.

Apesar das conquistas de autonomia provincial, eclodiram revoltas significativas como a Cabanagem (no Pará), a Sabinada (na Bahia) e a Revolução Farroupilha (no Rio Grande do Sul), motivadas por insatisfações populares e interesses regionais contrariados. Durante a Regência Una de Feijó, os moderados dividiram-se em dois grupos: os progressistas, que defendiam maior autonomia provincial, e os regressistas, que buscavam centralização para conter os levantes.

Dessas facções emergiram os dois principais partidos do Império: o Conservador, formado pelos regressistas e composto por grandes proprietários rurais e magistrados, e o Liberal, liderado pelos progressistas e representando a classe média urbana e novos proprietários agrícolas.

Em 1837, Feijó renunciou ao cargo de regente, pressionado pela crescente oposição dos regressistas e sua incapacidade de controlar os levantes provinciais. Suas propostas progressistas, especialmente a abolição da escravidão, enfrentaram forte resistência das elites agrárias, enfraquecendo sua posição política.

Pedro Araújo Lima (1837-40)

Com a renúncia de Feijó, Pedro de Araújo Lima assumiu a regência, iniciando a última fase regencial, caracterizada por uma orientação conservadora e pela tentativa de reverter as conquistas liberais do período anterior. Em seu governo, nomeou regressistas como Bernardo Pereira de Vasconcelos para ministérios-chave, fortalecendo o poder central. A Lei Interpretativa de 1840 devolveu ao governo central o controle sobre polícia e justiça, desfazendo a descentralização estabelecida pelo Ato Adicional de 1834, visando combater as revoltas provinciais da Cabanagem, Sabinada e Revolução Farroupilha.

Golpe da MaioridadeEm meio às crescentes tensões políticas, os liberais organizaram o Clube da Maioridade, defendendo a antecipação da maioridade de D. Pedro II para pôr fim ao período regencial e restaurar a unidade política. Em julho de 1840, D. Pedro II foi coroado imperador aos 14 anos, encerrando oficialmente a regência no episódio que ficou conhecido como Golpe da Maioridade. Apesar dessa mudança, a tendência centralizadora do período regressista prevaleceu, consolidando o poder do governo central e enfraquecendo as autonomias provinciais.

Após a coroação de D. Pedro II, os conservadores fortaleceram ainda mais o controle central através de uma série de reformas. O Conselho de Estado foi restabelecido em 1841, e a reforma do Código de Processo Criminal subordinou a polícia e a justiça ao ministro da Justiça. A transferência da Guarda Nacional para o Ministério da Justiça em 1850 completou o processo de centralização imperial, consolidando o domínio político das elites nacionais em um sistema fundamentado na grande propriedade escravista.

Revoltas Provinciais

O período regencial foi marcado por diversas revoltas com origens e características distintas, que refletiam tanto as dificuldades cotidianas da população quanto as instabilidades políticas da época. Nas principais capitais, ocorreram insurreições urbanas lideradas por soldados e pela população insatisfeita até meados da década de 1830.

Após o Ato Adicional de 1834, eclodiram novas revoltas: a Cabanagem no Pará (1835-1840), a Sabinada na Bahia (1837-1838), a Balaiada no Maranhão (1838-1840) e a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul (1836-1845).

A Cabanagem (Pará, 1835-40)

A Cabanagem, ocorrida no Pará entre 1835 e 1840, foi uma das mais violentas revoltas do período regencial, surgindo inicialmente de disputas locais entre elites pela nomeação do presidente da província. O movimento rapidamente ganhou caráter popular, reunindo índios, mestiços, negros e a população empobrecida que vivia em condições precárias. Insatisfeitos com as oligarquias locais, os rebeldes tomaram Belém em 1835, proclamaram a independência do Pará e tentaram estabelecer um governo próprio, mas enfrentaram divisões internas e dificuldades de organização. Sob a liderança de figuras como Eduardo Angelim, os cabanos expandiram a revolta por toda a província, transformando-a em uma guerra de guerrilha brutal.

A repressão governamental foi severa, com execuções em massa, prisões e uma militarização forçada da província. Após anos de combates sangrentos, a revolta foi esmagada em 1840, resultando em cerca de 30 mil mortes, o equivalente a 20% da população do Pará. A Cabanagem deixou um rastro de destruição e marcou profundamente a história brasileira, expondo as tensões entre as elites regionais, as desigualdades sociais e a resistência das classes populares frente à exploração e exclusão.

A Sabinada (Bahia, 1837-38)

PARREIRAS. O Primeiro Passo para a Independência da Bahia.                    Revoltas do Período Regencial: Sabinada.
PARREIRAS. O Primeiro Passo para a Independência da Bahia. Revoltas do Período Regencial: Sabinada.

A Bahia foi palco de importantes revoltas durante o período regencial, com destaque para a Sabinada (1837-1838), liderada pelo médico e jornalista Francisco Sabino. A revolta surgiu de dificuldades econômicas, autonomia local excessiva e resistência às imposições do governo central, tendo como estopim o recrutamento forçado para combater os farroupilhas no sul. Os revoltosos tomaram Salvador, proclamaram a República Bahiense e estabeleceram um governo republicano temporário, que deveria durar até D. Pedro II atingir a maioridade. Uma de suas principais propostas era libertar os escravos nascidos no Brasil que apoiassem o movimento, mantendo os demais em cativeiro.

O governo central respondeu de forma rápida e brutal. Apoiado pelos senhores de engenho do Recôncavo, tropas imperiais cercaram Salvador e reprimiram a revolta com violência extrema. Casas foram incendiadas, prisioneiros executados, e mais de 2 mil pessoas, incluindo líderes do movimento, perderam suas vidas. A Sabinada tornou-se um dos principais exemplos de resistência ao poder central durante o período regencial, mas, como outras revoltas provinciais, foi esmagada pela força militar, consolidando assim a centralização política do Rio de Janeiro.

A Balaiada (Maranhão, 1838-41)

A Balaiada, ocorrida no Maranhão entre 1838 e 1841, foi uma revolta popular impulsionada por tensões sociais, econômicas e políticas. A crise no mercado de algodão agravou a pobreza na província, onde a população era majoritariamente composta por escravos e sertanejos em condição miserável. O movimento teve três líderes principais: Raimundo Gomes, conhecido como "Cara Preta", Manuel dos Anjos Ferreira, apelidado de "Balaio", e Cosme Bento, que comandou cerca de 3 mil escravos fugidos. Os rebeldes, em oposição aos privilégios das elites locais, ocuparam a Vila de Caxias e ameaçaram avançar sobre São Luís. No entanto, a falta de organização e as divisões internas enfraqueceram a revolta.

RUGENDAS. Terceiro Batalhão do Exército Brasileiro em São Cristóvão, Rio de Janeiro. Tropas partindo do Rio de Janeiro para combater a Balaida no Maranhão.
RUGENDAS. Terceiro Batalhão do Exército Brasileiro em São Cristóvão, Rio de Janeiro. Tropas partindo do Rio de Janeiro para combater a Balaida no Maranhão.

O governo central enviou tropas sob o comando do coronel Luís Alves de Lima e Silva para reprimir o movimento e pacificar a região. A repressão foi implacável: líderes foram executados, escravos participantes foram recapturados, e Cosme Bento foi enforcado em 1842. Apesar da anistia concedida em 1841, a Balaiada reforçou o domínio das elites locais e a centralização política, tornando-se um símbolo da resistência popular contra as desigualdades da sociedade escravista e o poder repressivo do governo imperial.

A Revolução Farroupilha (Rio Grande do Sul, 1835-45)

LITRAN, Guilherme. Carga de Cavalaria Farroupilha. Acervo Museu Júlio Castilhos.
LITRAN, Guilherme. Carga de Cavalaria Farroupilha. Acervo Museu Júlio Castilhos.

A Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, foi a mais longa revolta da história brasileira, estendendo-se de 1835 a 1845. Liderada pelos estancieiros do Rio Grande do Sul, o movimento buscava maior autonomia provincial e redução dos impostos sobre o charque gaúcho, que sofria desvantagens tributárias em relação ao charque dos países platinos. A economia regional, voltada para o mercado interno e baseada em produtos como gado, couro e sebo, enfrentava concorrência desigual, pois o charque platino era produzido com mão de obra assalariada — mais barata e eficiente que o trabalho escravo usado nas estâncias gaúchas.

A revolta iniciou-se em 1835, quando Bento Gonçalves tomou Porto Alegre e depôs o presidente da província. Em 1836, os revoltosos proclamaram a República Rio-Grandense, com sede em Piratini, e posteriormente estabeleceram a República Juliana em Santa Catarina, contando com o apoio de líderes como Giuseppe Garibaldi. Apesar do início promissor, o movimento sofreu forte repressão liderada pelo barão de Caxias, culminando no acordo de Paz de Ponche Verde em 1845. O tratado estabeleceu anistia geral, incorporação dos oficiais farroupilhas ao Exército imperial, libertação dos escravos que participaram da revolta e medidas de proteção à produção do charque gaúcho. A revolução, mesmo derrotada, marcou profundamente a história do país e consolidou Caxias como "Pacificador do Império".

Resumo Revoltas Regências

RevoltaLocal e PeríodoPrincipais Características
SabinadaBahia (1837-1838)- Liderada por Francisco Sabino - Proclamou República Bahiense temporária - Propôs libertação de escravos nascidos no Brasil que apoiassem o movimento
BalaiadaMaranhão (1838-1841)- Liderada por Raimundo Gomes, Manuel "Balaio" e Cosme Bento - Motivada por tensões sociais e crise do algodão - Envolveu cerca de 3.000 escravos fugidos
Revolução FarroupilhaRio Grande do Sul (1835-1845)- Mais longa revolta da história brasileira - Buscava autonomia provincial e redução de impostos - Proclamou República Rio-Grandense - Terminou com o acordo de Paz de Ponche Verde

Conclusão

Com a abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho de apenas cinco anos de idade, foi necessário escolher uma regência para governar o país. A Constituição determinava que a eleição dos regentes deveria ser feita pela Assembleia Geral. No entanto, esta estava em recesso e muitos parlamentares encontravam-se ausentes do Rio de Janeiro. Para solucionar o impasse, os deputados presentes na capital estabeleceram uma Regência Provisória até o retorno dos demais parlamentares para a realização da eleição oficial. O período regencial foi encerrado pelo Golpe da Maioridade em 1840, que consolidou a ordem imperial no Brasil. A elite agrária e burocrática assumiu o controle do Estado, mantendo um modelo centralizado que preservou tanto a unidade nacional quanto a economia escravista-exportadora. Os grandes proprietários rurais, que inicialmente defendiam a descentralização, mudaram sua posição durante a Regência, motivados pelo temor das revoltas e pela ascensão da elite cafeeira da Baixada Fluminense. Esta última aliou-se à aristocracia nordestina para manter a unidade nacional e reprimir as revoltas populares, ao mesmo tempo em que resistia às pressões contra o tráfico negreiro.

Ao término da Regência, a sociedade mantinha-se profundamente desigual, com escravos, trabalhadores pobres e mulheres excluídos dos direitos políticos. O domínio das elites latifundiárias, respaldado por sua formação europeizada, perpetuou um sistema econômico fundamentado na exportação e na exploração.

Referências

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  • FAUSTO, Boris. História do Brasil.10. ed. São Paulo: Edusp, 2002.
  • NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Dom Pedro I. Verbete. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
  • NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Concordas e constitucionais: a cultura política da independência. Rio de Janeiro: Renan/Faperj, 2003.
  • PRADO JR., Caio. Evolução Política do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1999.
  • Câmara dos Deputados. Legislação Informatizada - LEI Nº 16, DE 12 DE AGOSTO DE 1834. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/leimp/1824-1899/lei-16-12-agosto-1834-532609-publicacaooriginal-14881-pl.html