O Segundo Reinado (1840-1889) foi um período de estabilidade política e centralização no Brasil, iniciado pelo Golpe da Maioridade, que antecipou a ascensão de Dom Pedro II ao trono aos 14 anos. Este episódio encerrou o turbulento Período Regencial e estabeleceu um governo que consolidou a monarquia como representante dos interesses das elites agrárias e escravocratas. Dom Pedro II, herdeiro de importantes dinastias europeias, liderou o mais longo período político contínuo da história do Brasil, conferindo ao Império uma nova identidade.

MOREAUX,François-René<strong>. </strong>O ato de coroação de Dom Pedro II, 1842.
MOREAUX,François-René

O reinado de Dom Pedro II dividiu-se em três fases principais:

  • Consolidação (1840-1850), marcada pela pacificação das províncias e fortalecimento do poder central;
  • Auge (1850-1865), caracterizado pela estabilidade interna e projeção internacional, com expressiva expansão da cafeicultura e modernizações pontuais;
  • Declínio (1865-1889), quando a crise econômica, o movimento abolicionista e o avanço do republicanismo enfraqueceram a monarquia. Neste período, mesmo com medidas como a proibição do tráfico de escravizados e a repressão a revoltas regionais fortalecendo o poder imperial, as tensões sociais e políticas persistiram.

A partir da década de 1870, apesar da relativa estabilidade, o Segundo Reinado enfrentou desafios crescentes. Pressões internas e externas — como o abolicionismo e a insatisfação militar — geraram tensões que culminaram na Proclamação da República em 1889. Embora representasse o apogeu da monarquia brasileira, o governo de Dom Pedro II não se adaptou às transformações sociais e políticas do final do século XIX, resultando no fim do regime imperial e na transição para a era republicana.

1. A Política do Segundo Reinado

O Segundo Reinado (1840-1889), período em que Dom Pedro II governou após o Golpe da Maioridade, caracterizou-se por uma política centralizadora e uma estrutura institucional singular. O regime fundamentava-se em três pilares: centralização do poder, conciliação oligárquica e exclusão social — pessoas escravizadas e a população pobre livre não participavam da vida política. As estruturas institucionais conferiam ao imperador o papel de árbitro supremo, resultando em uma estabilidade mais aparente do que real.

O sistema político concentrava-se no poder do imperador por meio do Poder Moderador, que lhe garantia ampla autoridade sobre as demais esferas. Dom Pedro II exercia pessoalmente esse poder e chefiava o Executivo, incluindo o Conselho de Estado, enquanto o Legislativo era composto por senadores e deputados. O Partido Liberal e o Partido Conservador alternavam-se no governo através da "política de conciliação". Dom Pedro II implementava essa estratégia nomeando alternadamente gabinetes liberais e conservadores para manter o equilíbrio político.

Caricatura retratando a alternância de partidos no Império durante o Segundo Reinado, em que os Partidos Conservador e Liberal aparecem em um carrossel formado por Pedro II.
Caricatura retratando a alternância de partidos no Império durante o Segundo Reinado, em que os Partidos Conservador e Liberal aparecem em um carrossel formado por Pedro II.

As disputas políticas eram protagonizadas por estes dois partidos principais:

  • Partido Liberal (Luzias):
    • Autonomia Provincial: Buscavam maior independência das unidades federativas em relação ao governo central.
    • Apoio das Camadas Médias Urbanas: Contavam com o suporte das classes médias urbanas, incluindo profissionais liberais e produtores voltados ao mercado interno.
  • Partido Conservador (Saquaremas):
    • Governo Forte e Centralizado: Apoiavam a concentração de autoridade no imperador.
    • Apoio das Elites Agrárias: Mantinham vínculos estreitos com latifundiários e apoiavam a aliança entre a burocracia estatal, o grande comércio e a produção agrícola de exportação.

Apesar das diferenças ideológicas, ambos os partidos defendiam os interesses da elite e a manutenção da escravidão, divergindo principalmente quanto à distribuição do poder. Compartilhavam a Defesa da Estrutura Oligárquica e a Manutenção da Escravidão como base econômica. Em essência, tanto liberais quanto conservadores representavam as grandes elites agrárias.

Parlamentarismo às Avessas

No Segundo Reinado, o "parlamentarismo às avessas" brasileiro distinguia-se do modelo clássico inglês pela concentração de poder nas mãos do imperador. Dom Pedro II tinha a prerrogativa de escolher o presidente do Conselho de Ministros diretamente, sem necessidade de maioria parlamentar prévia. Por meio do Poder Moderador, ele nomeava o chefe do gabinete que, em teoria, precisava da aprovação da Câmara dos Deputados. O imperador também podia dissolver a Câmara ou substituir o gabinete a qualquer momento, interferindo tanto no Legislativo quanto no Executivo.

O contraste com o parlamentarismo inglês era notável. Na Inglaterra, o Executivo dependia da confiança e do apoio contínuo do Parlamento, e a supremacia parlamentar garantia um equilíbrio de poderes efetivo. No Brasil imperial, o poder concentrava-se nas mãos do imperador através do Poder Moderador, que interferia diretamente nas instituições segundo seus interesses, limitando a autonomia parlamentar e a representatividade. Esse modelo perpetuava a hegemonia da elite oligárquica e preservava as estruturas socioeconômicas vigentes, caracterizando uma modernização conservadora: as instituições simulavam práticas parlamentaristas, mas operavam sob um regime centralizador e personalista, distanciando-se dos princípios democráticos e do equilíbrio de poderes típicos do sistema inglês.

2. Economia

Durante o Segundo Reinado, a economia brasileira passou por transformações significativas, tendo o café como principal vetor de crescimento. A produção cafeeira, inicialmente concentrada no Vale do Paraíba, expandiu-se para o Oeste paulista, aproveitando condições naturais superiores, a expansão ferroviária e a imigração europeia. Essas mudanças permitiram diversificar as atividades econômicas, substituir gradualmente o trabalho escravizado pelo assalariado e promover o fortalecimento do Sudeste em detrimento do antigo núcleo econômico nordestino.

FERREZ,Marc. Escravos em terreiro de uma fazenda de café. Vale do Paraíba, 1882
FERREZ,Marc. Escravos em terreiro de uma fazenda de café. Vale do Paraíba, 1882

O café, em sua ascensão como principal produto de exportação, superou culturas tradicionais como açúcar, algodão e fumo. A proibição do tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queirós) redirecionou capitais antes destinados à importação de pessoas escravizadas, estimulando investimentos na produção interna e na infraestrutura. Paralelamente, avançavam a urbanização e a modernização tecnológica. Os proprietários rurais diversificaram seus investimentos para além da lavoura, incluindo comércio, bancos e indústrias, formando uma elite agrária-urbana mais dinâmica.

Contudo, essa "modernização conservadora" manteve intactas as estruturas fundamentais de dominação social e econômica, preservando a concentração fundiária e a exclusão da maioria da população. O processo gradual de abolição da escravatura, somado às pressões internas e externas pelo seu fim, gerou tensões sociais crescentes. O período imperial encerrou-se com a consolidação da cafeicultura, a integração do trabalho livre, a diversificação econômica e o crescimento populacional, preparando o terreno para a industrialização que se desenvolveria na República.

O início da industrialização brasileira: a "era Mauá"

Irineu Evangelista de Sousa, Visconde de Mauá,1898.
Irineu Evangelista de Sousa, Visconde de Mauá,1898.

A partir da década de 1840, mudanças no cenário comercial internacional e novas medidas governamentais favoreceram a industrialização no Brasil. Com o fim do tratado de 1810 com a Inglaterra, a criação da Tarifa Alves Branco (1844) elevou as alíquotas de importação para produtos estrangeiros para 30% a 60%. Embora essa medida tivesse fins puramente fiscais, o encarecimento dos produtos importados acabou estimulando a produção nacional e abriu caminho para novas indústrias voltadas ao mercado interno.A Lei Eusébio de Queirós (1850), ao extinguir o tráfico legal de africanos escravizados, redirecionou os capitais antes investidos nesse comércio. Esses recursos migraram para outros setores, incluindo a indústria.

A combinação entre o alto custo dos importados e o capital disponível incentivou os fazendeiros a investir na produção local. Nesse contexto, destacou-se Irineu Evangelista de Souza, o barão de Mauá, pioneiro no desenvolvimento de empresas e serviços modernos, como indústrias, ferrovias e bancos.

No entanto, essa industrialização não rompeu a dependência do Brasil em relação ao centro capitalista internacional. Era uma modernização econômica limitada e atrelada ao padrão global, sem pretensões de desenvolver um setor industrial autônomo.

Em vez de competir com as manufaturas sofisticadas estrangeiras, as indústrias brasileiras concentraram-se em produtos mais simples para o consumo interno, preenchendo principalmente as lacunas deixadas pela redução de produtos ingleses. A "era Mauá", apesar de ter diversificado a economia, não alterou a posição periférica do Brasil no sistema capitalista mundial.

3. A questão da mão de obra no Segundo Reinado

Durante o Segundo Reinado, o Brasil manteve a escravidão como sustentáculo da economia, sobretudo nas lavouras de café do Vale do Paraíba, onde a alta demanda por mão de obra fortaleceu a elite agrária. Contudo, as pressões internacionais — especialmente britânicas — contra o tráfico negreiro, que culminaram na Lei Eusébio de Queirós (1850), somadas ao crescimento dos movimentos abolicionistas internos, começaram a abalar esse sistema. Para suprir a necessidade de trabalhadores, iniciou-se o tráfico interprovincial, que transportava pessoas escravizadas de outras regiões do Brasil para o Centro-Sul.

Com a crescente pressão abolicionista e a necessidade de uma força de trabalho mais adaptável, os fazendeiros voltaram-se para o trabalho livre. A primeira tentativa foi o sistema de "parceria", no qual os fazendeiros financiavam a vinda e o estabelecimento de imigrantes europeus em suas terras, esperando recuperar o investimento através da produção dos colonos. Esse sistema fracassou devido aos juros abusivos, maus-tratos, baixa remuneração e revoltas dos imigrantes insatisfeitos.

Imigrantes europeus posando para fotografia no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo.
Imigrantes europeus posando para fotografia no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo.

Após o insucesso da parceria, os fazendeiros pressionaram o governo brasileiro por uma solução, resultando na imigração subvencionada. Este novo sistema reduziu custos e obstáculos iniciais para os colonos, estabelecendo gradualmente um mercado de trabalho livre assalariado.

A Lei de Terras de 1850 foi outro elemento crucial na reorganização do trabalho, ao restringir o acesso à terra por pequenos agricultores sem capital. Isso direcionava a mão de obra livre para as fazendas exportadoras, impedindo a formação de uma classe de pequenos proprietários e mantendo a concentração fundiária. Assim, imigrantes e trabalhadores livres, sem meios de estabelecer-se independentemente, tornavam-se disponíveis para o trabalho assalariado.

No fim do Segundo Reinado, a estrutura trabalhista brasileira havia se transformado significativamente: a escravidão declinava, cedendo espaço ao trabalho assalariado e à expansão do mercado interno. Essas mudanças pavimentaram o caminho para o fim formal da escravidão em 1888 e para a industrialização que caracterizaria o início da República.

4. Leis Abolicionistas

O início do século XIX foi marcado por profundas transformações econômicas, sociais e culturais, impulsionadas pela Revolução Industrial inglesa. Esse processo consolidou o capitalismo moderno, fundamentado no trabalho assalariado e na propriedade privada dos meios de produção, direcionando as atividades produtivas para o mercado de bens de consumo. A escravidão, ao impedir que a pessoa escravizada se tornasse consumidora, era vista como obstáculo ao desenvolvimento econômico e moral pela Europa industrializada, especialmente pela Inglaterra, que exerceu forte pressão sobre o Brasil para acabar com o tráfico negreiro e o regime escravista.

Em resposta a essas pressões, o Brasil aprovou leis contra o tráfico de escravos a partir de 1831, embora não as fiscalizasse efetivamente. A Lei Bill Aberdeen, de 1845, autorizava a marinha britânica a interceptar navios negreiros brasileiros, intensificando a pressão e resultando em centenas de apreensões. Com a expansão da cafeicultura e a necessidade de mão de obra, intensificou-se o tráfico interno de escravos do Nordeste para o Sudeste. O abolicionismo ganhou força a partir de 1870, quando intelectuais como Luís Gama, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, além de políticos, jornalistas e diversos grupos sociais, passaram a exigir o fim definitivo da escravidão. A Lei do Ventre Livre (1871) sinalizou o inevitável esgotamento do regime escravista.

FERREZ,Marc. Escravos em terreiro de uma fazenda de café, 1882.
FERREZ,Marc. Escravos em terreiro de uma fazenda de café, 1882.

Embora a Inglaterra tenha exercido pressão decisiva, foram as resistências internas que tiveram papel fundamental na abolição da escravidão: a formação de quilombos, as fugas, os protestos, os processos judiciais movidos pelos cativos e a crescente mobilização abolicionista. Essas forças culminaram na abolição definitiva em 1888, encerrando um sistema baseado na exploração e na negação de direitos fundamentais.

Durante esse período, foram promulgadas diversas leis graduais visando à abolição da escravidão. As principais foram:

  • Lei Eusébio de Queirós (1850): Proibiu o tráfico negreiro no Brasil, enfraquecendo o sistema escravista ao impedir a entrada de novos escravizados. Esta lei foi crucial para o movimento abolicionista por eliminar a principal fonte de mão de obra escravizada, embora a escravidão tenha persistido internamente.
  • Lei do Ventre Livre (1871): Declarava livres os filhos de mulheres escravizadas nascidos após sua promulgação. No entanto, essas crianças permaneciam sob tutela dos senhores até os 8 anos, quando poderiam ser libertadas ou obrigadas a trabalhar até os 21 anos como forma de "indenização".
  • Lei dos Sexagenários (1885): Concedia liberdade aos escravizados com mais de 60 anos. No entanto, devido à baixa expectativa de vida e às condições severas de trabalho, poucos atingiam essa idade. Os libertos geralmente permaneciam dependentes dos antigos senhores, recebendo salários irrisórios.
  • Lei Áurea (1888): Assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio, foi o ato final que aboliu a escravidão no Brasil. Por não prever compensação aos proprietários de escravos, provocou revolta entre as elites, contribuindo para o enfraquecimento da monarquia. A Lei Áurea não representou um ato de benevolência governamental, mas uma tentativa de sobrevivência política e de evitar o debate sobre a reforma agrária. O Brasil foi o último país independente a abolir a escravidão.

5. A Revolução Praieira (Pernambuco, 1848-50)

Em 1848, Pernambuco foi palco da última grande revolta provincial do Brasil Imperial — a Revolta Praieira. O movimento refletia as tensões socioeconômicas da região, caracterizada pela extrema concentração de terras e pelos conflitos políticos entre liberais e conservadores. O nome "Praieira" teve origem no jornal Diário Novo, localizado na Rua da Praia, que propagava os ideais dos revolucionários. O Manifesto ao Mundo apresentava as principais demandas do movimento: voto livre e universal, liberdade de imprensa, abolição da escravidão, nacionalização do comércio português e instauração da república.

Sob a liderança do capitão Pedro Ivo e do general Abreu e Lima, a Praieira fazia parte do contexto das revoluções populares de 1848, conhecidas como "Primavera dos Povos", que almejavam mudanças políticas e sociais na Europa e nas Américas. Apesar de não ter caráter socialista, o movimento expressava aspirações por liberdade, justiça social e melhores condições de vida, além de fortalecer o ideal republicano já existente na província. Um elemento crucial foi a participação de senhores de engenho liberais, que disputavam o controle comercial da região com os portugueses estabelecidos no Recife.

Em 1850, as tropas imperiais suprimiram a revolta, e a região foi pacificada nos dois anos seguintes. Com as insatisfações controladas e os interesses da elite local harmonizados, o governo de Dom Pedro II fortaleceu o poder central e inaugurou um período de estabilidade, possibilitando o progresso da economia nacional, principalmente por meio do crescimento da produção e exportação de café, que se tornaria a principal atividade econômica do país.

6. A Guerra do Paraguai (1865-1870)

A Guerra do Paraguai (1864–1870) foi o maior e mais sangrento conflito da América do Sul no século XIX, envolvendo Brasil, Argentina e Uruguai, unidos pela Tríplice Aliança, contra o Paraguai, governado por Francisco Solano López.

Guerra do Paraguay. Ataque de 16 de julho de 1866 em Tuyuty (Boqueirão).
Guerra do Paraguay. Ataque de 16 de julho de 1866 em Tuyuty (Boqueirão).

Início do Conflito

A intervenção brasileira no Uruguai — sob pretexto de proteger os interesses de seus cidadãos — desestabilizou o equilíbrio regional, provocando a reação do presidente paraguaio Solano López. Em novembro de 1864, o Paraguai capturou um navio brasileiro no rio Paraguai e rompeu relações diplomáticas. O conflito iniciou-se favoravelmente ao Paraguai, que conquistou territórios brasileiros e argentinos. Porém, sua derrota na Batalha Naval de Riachuelo, em junho de 1865, alterou o curso da guerra, transferindo a iniciativa para as forças aliadas.

As alianças regionais se redefiniram: o Uruguai, governado pelo partido Blanco, aliou-se ao Paraguai e ao líder argentino Urquiza, enquanto os Colorados uruguaios receberam apoio do Brasil e do presidente argentino Bartolomeu Mitre.

Escalada do Conflito:

  • Dezembro de 1864: tropas paraguaias atacaram Mato Grosso.
  • Janeiro de 1865: forças brasileiras e uruguaios colorados invadiram o Uruguai.
  • Maio de 1865: assinatura do Tratado da Tríplice Aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai.
  • 1866: Batalha de Tuiuti resultou em derrota decisiva para o Paraguai. Sob o comando do duque de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva, a fortaleza de Humaitá foi conquistada.
  • 1869: Forças aliadas ocuparam Assunção.
  • 1870: O conde d'Eu, sucessor de Caxias, derrotou definitivamente as forças paraguaias em Cerro Corá. Solano López morreu em combate, marcando o fim da guerra.

As consequências do conflito foram devastadoras, principalmente para o Paraguai, como veremos a seguir:

ConsequênciasInternacionaisPara o Brasil
DemográficasRedução drástica da população paraguaia, especialmente masculinaPerda de cerca de 1/5 dos soldados brasileiros enviados ao front
EconômicasDevastação da infraestrutura agrária, pecuária e industrial do Paraguai, tornando-o dependente de outros paísesEndividamento externo devido a empréstimos com banqueiros ingleses, aumento de impostos e emissão excessiva de papel-moeda, resultando em inflação e alto custo de vida
Políticas e RegionaisFortalecimento da influência brasileira na região; Paraguai politicamente fragilizadoConsolidação do poder do Brasil na Bacia do Prata e ampliação territorial ao sul de Mato Grosso, porém com o consequente desgaste interno
SociaisDesequilíbrio demográfico no Paraguai e instabilidade socialCrescente descontentamento popular devido ao alto custo da guerra, contribuindo para o enfraquecimento do regime monárquico
Impacto no Futuro PolíticoRedesenho dos equilíbrios de poder na região platinaDesgaste do Império, acelerando processos que culminariam na Proclamação da República em 1889.

A Questão Christie

A chamada Questão Christie, ocorrida em 1862, colocou novamente Brasil e Inglaterra em confronto. Após o naufrágio do navio inglês Prince of Wales e o subsequente saque de seus destroços, o embaixador britânico William Christie exigiu indenizações, reparações e um pedido formal de desculpas do Brasil. Diante da recusa brasileira, a Inglaterra retaliou aprisionando navios brasileiros em alto-mar, intensificando as tensões. Apesar da mediação do rei Leopoldo I da Bélgica, que deu razão ao Brasil, a ausência de retratação inglesa levou D. Pedro II a romper relações diplomáticas em 1863. Somente em 1865, devido à necessidade de apoio internacional durante a Guerra do Paraguai, as duas nações chegaram a um acordo, restabelecendo suas relações diplomáticas.

7. Fim do Segundo Reinado

O fim da monarquia brasileira resultou do desgaste progressivo entre o governo e três importantes grupos: a Igreja (sendo esta o fator menos relevante), o Exército e a elite escravocrata. O Exército, particularmente insatisfeito desde o fim da Guerra do Paraguai, foi o principal articulador da queda do regime. Em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca, liderando tropas militares, destituiu o Gabinete Ministerial, e José do Patrocínio proclamou a República no Brasil.

A crise do Império e a Proclamação da República foram causadas por quatro questões principais:

  • A Questão Religiosa envolveu conflitos entre o Império e a Igreja devido à interferência estatal em assuntos religiosos. Quando uma bula papal condenou a maçonaria, bispos brasileiros suspenderam irmandades ligadas a maçons, seguindo orientação do Vaticano. D. Pedro II reagiu prendendo esses bispos, provocando uma crise entre Igreja e Estado e gerando reivindicações pela separação entre ambos. Esse episódio contribuiu para o distanciamento da Igreja e o enfraquecimento da monarquia.
  • A Questão Militar surgiu da crescente consciência do Exército sobre sua importância após a Guerra do Paraguai e do interesse dos oficiais em influenciar a política interna, incluindo a defesa da República e o apoio à abolição. Ao punir militares que expressavam essas opiniões, entre eles Deodoro da Fonseca, o Império intensificou o descontentamento no Exército, contribuindo para o enfraquecimento da monarquia.
  • A Questão Política evidenciou o descompasso entre a estrutura política do Império e as demandas econômicas e sociais do país. Pressionado por mudanças, D. Pedro II propôs ao Congresso reformas que ampliariam direitos políticos, descentralizariam o poder e modernizariam a legislação. Com a rejeição pelos senadores, o imperador dissolveu o Congresso, mas o regime não resistiu até a nova convocação, culminando no golpe republicano liderado por Deodoro da Fonseca. A República trouxe princípios federativos, separação entre Igreja e Estado, liberdade de culto, cidadania a estrangeiros residentes e registro civil, inaugurando um período dominado pelos interesses da oligarquia cafeeira.
  • A Questão Abolicionista evidenciou o descontentamento gerado pela abolição da escravidão (1850-1888), realizada sem assegurar aos ex-escravos acesso à terra ou condições de trabalho adequadas, perpetuando relações opressivas no campo e forçando muitos libertos a buscar sobrevivência nas cidades. Ao mesmo tempo, a elite escravocrata se mostrou contrária à Lei Áurea e recusou reformas agrárias, isolando a monarquia de diversos segmentos sociais. Nesse clima de insatisfação, o republicanismo, associado ao federalismo e ao positivismo, consolidou sua influência, sobretudo no Exército, contribuindo para a criação do Partido Republicano em 1870 e, em última instância, para a queda do Império.

Conclusão

O Segundo Reinado foi um período crucial para o Brasil, marcado por estabilidade política inicial, crescimento econômico, transformações culturais e desafios sociais profundos. A monarquia, sob Dom Pedro II, desempenhou um papel importante na construção do Brasil moderno, mas não conseguiu resistir às mudanças que emergiam na sociedade brasileira, dando lugar à República e a um novo capítulo na história do país.

Referências

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  • LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil imperial. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. (Série Revisão 8).
  • PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato. Uma breve História do Brasil. São Paulo: Planeta, 2010.
  • SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
  • VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822 – 1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
  • VICENTINO, Claúdio; DOTIGO, Gianpaolo. História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1997.
  • GUERRA do Paraguai: [álbum de litografias contemporâneas da Guerra do Paraguai, segundo os desenhos de diversos artistas e publicadas no "Supplemento da Semana Illustrada" outros jornais da época]. Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon563050/icon563050.pdf. Acesso em: 12 dec. 2024.
  • Caminhos da liberdade : histórias da abolição e do pós-abolição no Brasil / Martha Abreu e Matheus Serva Pereira (orgs.) . –Niterói : PPGHistória- UFF, 2011.